21 novembro 2008

Pássaro

Para se motivar ele entendeu que a única forma capaz de dar conta de sua angústia era a possibilidade de se libertar do que ele chamava de pássaro.

O pássaro lhe dava asas, permitia sua fuga quando sempre assim a desejava, estranho porque a sua busca estava no conhecimento de algo pouco acessível ao seu modo de ver e perceber o mundo. Era uma busca filosófica. Mas isso deixemos para uma outra hora.

Ele estava apenas admirando uma janela, nada era siginifcativamente atraente para ele à sua frente. Motivar sua própria vida, era o que desejava naquele momento. Fechou a janela e logo depois os seus olhos. Acordou numa rua deserta, sem casas, apenas cercas de ambos os lados. O horizonte era formado por árvores espessas e de baixa estatura, podia crer que era um cerrado, mas logo deixou de pensar nisso.

Para qual lado seguir?

Ouviu se aproximar o som que por toda uma vida fez crescer a sua angústia. Era o pássaro.

As asas batiam com uma força espetacular e quando enfim ele pôde perceber aquele animal em pleno voo, quis arrancar suas próprias entranhas com a força de um Hércules.
Mas forças sempre lhe faltaram.

Eis a ave crescendo à sua frente. Fechou os olhos novamente e quando os abriu percebeu que estava no mesmo lugar. Quis saber se aquilo representava seu fim.

O pássaro voou sobre sua cabeça e logo se transformou em uma figura que ele jamais vira, muito mais grosseira e assustadora. Ele correu, correu até perder todas as energias de suas pernas.

Estava ali deitado em um solo arenoso, amargurado e pouco esperançoso, e sabia que permaneceria assim, com o pior dos sentimentos, o ódio de si mesmo.

Dias se passaram até conseguir se levantar e ao dar seu primeiro passo sabia que nenhum pássaro o atormentaria.

Sorriu enfim.