24 fevereiro 2009

Carnaval e Coração

A Mocidade Alegre acabou de vencer o carnaval aqui em São Paulo, o tema foi o coração, o que levou meu pai, cardiologista, a desfilar no Anhembi pela segunda vez. Pois é, a primeira foi por conta de uma de suas paixões: a Colômbia; e dessa vez foi sua outra paixão: a profissão que exerce há 34 anos.

Trinta e quatro anos tenho eu também, e uma de minhas paixões é o Clube de Regatas Flamengo, que iniciou o carnaval 2009 deixando toda uma nação triste e decepcionada ao sofrer uma derrota para o Resende. Nunca ouviu falar nesse time? Procure no Google, mas evite a notícia do placar de sábado passado. Porém no crepúsculo dessa terça-feira de carnaval descobri algo bem inusitado.

Ali estava eu no sofá, clico no controle remoto e está iniciando um programa ótimo do SporTV, "Encontros para a História", e no encontro da vez estavam escalados Neguinho da Beija-Flor e Júnior. A conversa foi ótima, cheia de emoções (para lágrimas) e diversões (para risadas), mas foi uma resposta do Júnior que fez meu coração rubro-negro emocionadamente bater ainda mais forte.

O jornalista perguntou ao Júnior qual o momento mais marcante de sua carreira, ele responde que é comum ir para algo mais pessoal e narrou uma história que, segundo ele, nunca vai cansar de falar sobre ela. Ele estava jogando na Itália, já há uns 5 anos, e o Zico deu um VHS com várias imagens de seus gols ao filho do Júnior chamado Rodrigo.

Um dia Junior chegou em casa e seu filho estava vendo essa fita.
Rodrigo perguntou ao pai:
-Pai, quando eu vou te ver jogar no Maracanã?

Isso desabou o ídolo rubro-negro que pensou: vou voltar ao Brasil agora!
Era um momento delicado, pois Júnior estava com 35 anos, mas mesmo assim decidiu e veio jogar novamente no Flamengo.
Aí ele conta que quando o Flamengo ganhou o carioca em 1991 em cima do Fluminense e ao terminar o jogo ele foi abraçar seu filho, que chorava na beira do gramado, simplesmente esse momento se tornou um dos mais significativos pra ele.

E onde eu entro? Bem, graças ao Certo Flamenguista Rodrigo, o flamenguista aqui pôde ver o Júnior jogar ao vivo no ano de 1992, e para um rubro-negro que não viu nos gramados aquele Flamengo campeão do mundo no início dos anos 80, quando Júnior e companhia esbajavam um belissimo futebol, isso sem dúvida era uma dádiva muito grande.

Como foi bom ver o camisa 5 com todo o seu talento! E com um desfecho fabuloso: o Mengão foi campeão brasileiro de 92.

Obrigado Rodrigo, obrigado Júnior.

09 fevereiro 2009

Meninos, eu não ouvi

[Abaixo segue um texto de Reignaldo Veloso, amigo e companheiro, sobre a celebração do centenário do nascimento de Dom Hélder]

Recife, 08.02.09

Foi muito bom, foi uma graça, ter tido Dom Geraldo Lírio, Presidente da CNBB, na presidência da celebração de ação de graças pelo Centenário de Nascimento de Dom Helder Câmara, muito embora tenha sentido a ausência de Dom Paulo Evaristo Arns, de Dom José Maria Pires, Dom Thomás Balduíno, de Dom Valdir Calheiros, de Dom Clemente Isnard, de Dom Pedro Casaldáliga, Dom Orlando Dotti, de Dom Angélico Sândalo, de Dom Moacyr Greick, de Dom Erwin Kräutler, de Dom Afonso Gregori, de Dom Manoel João Francisco, de Dom Franco Masserdotti, de remanescentes da mais significativa e honrosa plêiade de pastores que esse país já conheceu, mandados por Deus, em boa hora, para resgatar a essência do Evangelho, o compromisso com o excluído, no seio de uma Igreja, que tem passado séculos tentando alargar o buraco da agulha e emagrecer o camelo. Certamente, estes evangélicos pastores não foram representados por Dom José Cardoso Sobrinho, Sua Excelência o Indesejado, cuja presença foi a nota mais destoante deste inesquecível evento.

Foi muito bom o devoto Senador Marco Maciel ter escutado da boca do Presidente da CNBB o relato bastante detalhado sobre o que significou para a Igreja e, particularmente, para a pessoa e o ministério de Dom Helder, textualmente, “o Golpe militar”, que implantou no país a mais longa e cruel ditadura da sua história, decretou o silêncio, a não existência do Bispo dos Pobres e engendrou o assassinato do Pe. Antônio Henrique Pereira Neto (dia 27.05.69, o seu martírio completará 40 anos! E é bem provável que o Senador saiba quem possa ter sido o responsável).

Mas teria sido muito bom que a profética homilia de Dom Geraldo, tão explícita sobre a ditadura militar, tivesse sido igualmente explícita com relação à ditadura eclesiástica que fechou o Instituto de Teologia do Recife, o ITER, e o Seminário do Regional Nordeste 2, o SERENE 2. Sua Excelência, o arcebispo merecia ter passado pelo mesmo constrangimento que Sua Eminência, mo Senador. Pe. José Comblim, Prof. Zildo Rocha, Dom Sebastião Armando, Bispo Anglicano, Pe. Ernane Pinheiro, que estiveram à frente dessas duas importantes criações do gênio pastoral de Dom Helder, e estavam presentes à celebração do seu Centenário... o antropólogo José Maria Tavares, que chegara de Estrasburgo e fora seminarista da primeira leva do SERENE e de estudantes do ITER... os professores Degislando e Artur Peregrino, da UNICAP, que participaram das últimas turmas do ITER e do SERENE... Ir. Visitatio e Ir. Ivone Gerbara, que talvez aí estiveram, mas não cheguei a vê-las... e muitos outros e outras, padres, religiosas e agentes pastorais aí presentes... todos eles e elas mereciam ter ouvido uma palavra que, de certa forma, resgatasse o mérito de um Seminário e de um Instituto de Teologia, criados para formar presbíteros e animadores pastorais, capazes de se inserirem no meio do povo da periferia, como pobres no meio dos pobres, a fim de caminhar com eles para um mundo de dignidade, de justiça, onde todos pudessem “ter vida e vida em plenitude”, sonho de Dom Helder e, muito antes dele, do Mestre dos Mestres, JESUS.

Dom Geraldo, o senhor terá tido seus motivos ou conveniências, facilmente compreensíveis e identificáveis nos meios clericais, mas ficou devendo a nós esta profecia, porque, no seio da própria Igreja, “eu tive fome e sede de justiça e não me destes de comer, nem me destes de beber; estive nu e desabrigado, doente, perseguido, preso, e não vos solidarizastes comigo”. Mas não seja por isso. O senhor ainda tem muito chão e muito tempo pela frente. Deus o abençoe em seu ministério episcopal, à frente da CNBB.

Reginaldo Veloso, presbítero das CEBs
Assessor do Movimento de Trabalhadores Cristãos
Consultor do Movimento de Adolescentes e Crianças
Mestre em Teologia, PUG, Roma 1962
Mestre em História da Igreja, PUG, Roma 1965

e-mail: reginaldoveloso@uol.com.br