26 junho 2012

A jovem funcionária da loja de roupas

Foi na porta de uma loja de roupas que ela desafiou a sua própria insegurança. Precisava entrar para trocar uma saia comprada no dia anterior. Como ela podia compreender aquela troca? Insatisfação!

Sua mente se perturbava com as constantes insatisfações e naquela loja ela estava disposta a dar um basta nisso.

Procurou uma vendedora, tentou achar aquela que seria a mais nova da loja. Encontrou uma moça com piercing na sombrancelha, explicou que precisava trocar a peça de roupa e pediu algumas sugestões. A antendente, com uma invejável sutileza, indicou que a sua cliente não combinava com saias e seria melhor trocar por uma calça.

Perfeito. Como resposta a insatisfeita mulher vociferou palavras duras à jovem funcionária da loja de roupas, esbravejou que a opinião dela era rala e que não devia se intrometer com observações inadequadas. Foi uma busca incessante por todos os tipos de humilhações possíveis.

Uma funcionária mais velha tentou apaziguar a situação constrangerdora e não conseguiu. As palavras jorravam com um ódio que mesclava irritação com vontade de poder.

O poder escorria pelas entranhas da mulher insatisfeita. Isso a motivou para não mais se preocupar com a saia e somente expor ao mundo o seu modo de se sentir superior.

E o que fez a jovem vendedora? Nada. Apenas escutou de cabeça baixa. Em seus pensamentos navegava apenas a ansiedade para que tudo aquilo acabasse logo.

Sim, ela sentia um gigante desprezo por aquela mulher que a humilhava. Um insignificante inseto era a imagem que sua mente elaborava daquela mulher. A moça apenas reduzia, por meio de sua imaginação, a cliente a um nada, a uma existência detestável e condenável. Porém ela não tinha poder e seu castigo era o silêncio.

Duas horas depois.

A mulher vestia a saia que ela não trocou e se olhava no espelho. Sua mente era um poço de dúvidas.

A jovem funcionária enxugou as lágrimas quando descobriu que seu namorado sairia mais cedo do trabalho.

20 junho 2012

25 minutos

Tempo restante de bateria do computador: 25 minutos.

O que falar?

Parece que durou 25 minutos a Erundina como vice na chapa de Fernando Haddad, candidato petista à prefeitura de São Paulo.

Vi manifestações de indignação de diversas pessoas após o aperto de mão entre Lula e Paulo Maluf para consolidar o apoio do partido deste último ao PT nas eleições municipais paulistanas. A decisão de Erundina também faz parte dessas manifestações.

Não fiquei indignado. Compreendo a aliança.

Não é uma situação ideal, obviamente. Eu gostaria muito que não acontecesse, porém não me surpreendo com nada na política, é um campo onde a complexidade das relações me fascina e desafia.

Votarei 13. Meu voto em Fernando Haddad é certo. Esta certeza não acontece porque o PT é o melhor para administrar a cidade e sim porque é o partido mais adequado. Não entrarei aqui nos detalhes de todas as minhas motivações em votar no PT, mas irei expor a minha verdadeira preocupação no cenário político.

Enquanto não nos determos em valorizar o nosso voto, e isso significa em um acompanhamento dedicado ao significado de cada instituição política, tudo ficará mais difícil e sair criticando apertos de mão simbolizará indignação, mas na verdade será reforçar um estreito campo de visão.

Enquanto a eleição para os cargos legislativos (Deputados federarais e estaduais, e vereadores) for encarada por uma leviandade pelos eleitores brasileiros, jamais conseguiremos ampliar os verdadeiros debates. Todos aqueles mais de um milhão de eleitores que elegeram Maluf deputado federal em 2006 e depois em 2010 precisam refletir muito sobre isso.

Se partidos como o PP (de Maluf) e o PMDB (de Sarney) possuem força e levam o Lula a alianças condenáveis pelos puristas da politica, isto se deve ao desleixo que temos ao eleger os ocupantes de cargos legislativos.

Reformemos pelo voto. É a única bandeira que levanto.

12 junho 2012

Tantas Polônias

10 de junho de 2012: um domingo de Polônias.

No volei, o Brasil enfrentou o país do Solidariedade tanto no masculino como no feminino. Vencemos em ambos. Na TV acompanhei a Eurocopa e assisti ao confronto Espanha x Italia que aconteceu em solo polonês na portuária cidade onde Walesa fundou o Solidariedade.

Pra encerrar o dia assisti a "Violeta foi para o céu", filme de Andrés Wood sobre a cantora chilena Violeta Parra. Além do céu, Violeta também esteve na Polônia, não neste mesmo domingo, obviamente.

Eu não havia curtido nem um pouco o trailler deste filme, estava bem receoso, até mesmo porque o filme anterior de Wood, "Machuca", eu também não havia gostado. Mas era um domingo que encerrava um feriado prolongado e o horário da sessão me permitia voltar pra casa sem virar abóbora (ou jerimum).

Fui conhecer Violeta Parra.

Méritos com louvores para o filme e sua estrutura fragmentada. Acredito que a complexidade de Violeta, sua força na música e no pensamento em relação ao mundo, foram transferidos para a tela com uma precisão rara de ser vista em filmes biográficos. O filme consegue cativar.

Certa vez um polonês que estudava espanhol na Argentina e que namorava uma brasileira me disse que na Polônia tomar vodka é um evento especial, geralmente consiste numa celebração com amigos próximos e por um belo motivo. Lembrei disso antes de dormir já na madrugada do dia 11 de junho.

Sabe o que aconteceu no dia 11 de junho de 2005? Uma parada do orgulho gay em Varsóvia que havia sido proibida no dia anterior pelo prefeito desta cidade.

E no dia 10 de junho de 2012? A parada GLTB de São Paulo.

Alguém tem vodka?