20 dezembro 2014

Dor e nada

As letras estavam turvas e mesmo assim praticou a leitura sobre aquele cartaz sujo na porta de um banheiro mais sujo ainda.

Sem acreditar naquela leitura, ele decidiu usar a imaginação.  Tinha tempo. Pelo menos até um velho homem sair daquele cubículo conhecido como banheiro. 

Um tapete estendido num chão de terra, uma criança aparece e mija em cima desse tapete. O infante sai correndo e some.  O tapete solitariamente embaixo de um sol escaldante convive com o cheiro de um mijo infantil.

Nada.

Ele pensou consigo mesmo: "o cartaz e a turvidade da minha vista me levam a um nada". A bexiga doía. Dor e nada.

Foi por essa noite perdida no tempo que ele a conheceu e dali em diante muitas coisas em sua vida acontecer ele fez.

Sentiu-se longe de todos os nadas.

06 dezembro 2014

Moradores distantes

Havia um terreno baldio na rua em que eles passaram a infância. Era um espaço em que o mato ocupava metade do terreno, na outra metade o chão era de pedras, tipo aquelas ruas de cidades históricas. Eles, Bianca e Juan, moravam no mesmo edifício e cresceram brincando naquele terreno.

Juan, 19 anos, mora sozinho num bairro distante, considera-se focado na vida. Numa tarde ele decide pular o muro desse terreno baldio e ao chegar do outro lado não vê a mínima graça naquilo tudo. Pra que recordar a infância? - diz consigo mesmo. Juan se sente um idiota e resolve sair dali.

Ao pular de volta, o jovem sente sob seus pés as pedras do terreno. Juan está novamente no lugar de onde pulou. Mais uma tentativa e nada, ele continua preso ao espaço de suas brincadeiras de infância com Bianca.

Juan perambula pelo terreno, pula o muro diversas vezes, sempre buscando, além de uma solução, explicação para aquela situação cíclica. Curiosamente, não havia desespero nele, parecia de alguma forma que ele precisava daquilo, mesmo sem admitir pra si mesmo.

Juan deita no mato e adormece.

Bianca?

Também mora distante e toda semana visita seus pais. Ela nunca teve coragem de pular o muro e continua perambulando pelo mundo.

06 outubro 2014

Navegantes - Programa 7

Quando: 11 de outubro de 2014
Onde: Editora FiloCzar - Rua Durval Guerra de Azevedo, 511 Pq. Sto Antonio
Horário: 17h
Para saber mais sobre o Navegantes clique aqui

"Ameaçados", de Júlia Mariano


"ENTRE NÓS, DINHEIRO"
SP / 25 minutos / 2011
Dir: Renan Rovida
Sinopse:  É churrasco de fim de ano na firma, o Bar do Velho Cuba, e o que era para ser uma festa é trabalho para os funcionários. Trabalhando, é possível enriquecer?
Um dia de "festa" na periferia do Capital.


"AMEAÇADOS"
PA / 22 minutos / 2014
Dir: Julia Mariano
Sinopse: No Brasil profundo, onde lei e justiça dependem de nome e sobrenome, a luta pela terra é uma questão de vida ou morte. No sul e sudeste do Pará, pequenos agricultores seguem em seu sonho.

17 julho 2014

Uma pequena tatuagem ao lado de um expressivo 435

Reconhecer firma, era pra isso que eu estava naquele cartório num dia muito quente. No painel eletrônico o número era 415, na minha mão a senha era 442 e na mão dela a senha era 435. Duas cadeiras nos separavam e ela estava olhando para o painel eletrônico quando toquei em seu braço e disse: "Faltam vinte!". Seu olhar pra mim revelou o que devia estar em sua mente: "que cara babaca!". Emendei piorando a cantada: "Faltam vinte pra você fazer quarenta". Ela devia ter no mínimo trinta e sorriu, pensei: "sou foda!". Acho que uns três segundos depois ela se manifestou: "Você é muito ruim nisso!".

Mudei de assunto e perguntei sobre a tatuagem que ela tinha no pulso, um trevo de quatro folhas horrível. Ela disse que fazia tempo que havia feito, tipo uns vinte anos atrás e estampou um sorriso muito maldoso. Mas tudo bem, apesar de acreditar que não é num cartório sem ventiladores que a mulher da sua vida irá aparecer, continuei e quis saber se ela desejava fazer mais tatuagens.

Curiosamente ela se animou em conversar.

Começou a falar um bocado de coisas que obviamente já esqueci e no meio do falatório todo eu disse algo como que acho meio louca a coisa, tipo a pessoa envelhece e a tatuagem não, ou vice versa, a tatuagem envelhece porque pertenceu a um certo momento, a um especifico momento. Aí ela me olhou tão ternamente e comentou:

"Acho que a tatuagem se adapta ao corpo, aí é quando você olha pra tatuagem e lembra porque fez, o dia, a intensidade da dor, a reação das pessoas ao verem o desenho, acho que tudo isso vale e faz com que a tatuagem seja e continue sempre bonita"

Sim, me apaixonei num cartório debaixo de um calor insuportável.

Perguntei que outras tatuagens ela gostaria de fazer, a bela balzaquiana disse "pera!" e começou a dedilhar sobre o celular. Nisso o painel eletrônico acusou 435, ela ouviu o apito do painel, olhou pra ele e correu ao balcão. Fiquei perando e pensei comigo mesmo: "Faltam sete".

12 julho 2014

O Escudo de um Pássaro

Foi num dia chuvoso que descobri o quanto ela admirava as nuvens. Chuvas não lhe agradam e melancólica ela estava naquela tarde quando me deu um beijo carinhoso no rosto após eu contar uma piada sem graça.

Quando o céu está aberto e com muitas nuvens, ela dedica horas para exercitar sua imaginação com as diversas formas que cada nuvem faz ao se mover. Histórias, lendas, batalhas e animais povoam sua mente nesses momentos. É uma riqueza de criações.

Depois da minha péssima atuação como humorista ela me confidenciou sobre essa sua atração com as nuvens e desabafou quase em lágrimas como isso a relaxa e o quanto teme que isso se torne uma espécie de doença. Tentei lhe confortar, mas não levo o mínimo jeito nessas coisas, sempre acho que a pessoa fica pior.

A chuva parou e falei pra ela que poderíamos continuar caminhando para não chegarmos atrasados no curso. Ela me disse que precisava passar no banco, me deu outro beijo carinhoso e nunca mais a vi.

No fundo, eu adoro dias de chuva.

06 junho 2014

Navegantes - Programa 6

Quando: 8 de junho de 2014
Onde: Editora FiloCzar - Rua Durval Guerra de Azevedo, 511 Pq. Sto Antonio
Horário: 17h
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"A INVENÇÃO DA INFÂNCIA"
RS / 26 minutos / 2000
Dir: Liliana Sulzbach
Sinopse: Ser criança não significa ter infância.

"O PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS"
PE / 23 minutos / 2007
Dir: Camilo Cavalcante
Sinopse:  2003. Pela TV, George Bush declara guerra ao Iraque. No Curado IV, Carlinhos declara guerra à Teresinha. Seria cômico se não fosse trágico.

"A GUERRA DOS GIBIS"
SP / 20 minutos / 2012
Dir: Rafael Terpins, Thiago Mendonça
Sinopse: Nos anos 1960, surge uma criativa produção de quadrinhos eróticos no Brasil. A censura, porém, conspirava para o seu fim. Satã,Chico de Ogum, Maria Erótica e outros personagens se unem aos quadrinistas na batalha contra a ditadura neste documentário onde a pior ficção é a realidade.

27 abril 2014

Assuntos baratos

O latido do cachorro era agudo e parecia que o animal estava na soleira de sua porta, mas não estava. Tudo que ele dizia para si mesmo era que aquele cachorro não existia. O que poderia significar aquele som?

O apartamento era antigo, apertado e situava-se num prédio ao lado de outros prédios numa região maltratada do centro da cidade. Foi a primeira vez que ele ouvia aquele latido e buscou não relacionar com a sua solidão. Repetiu a si mesmo que não passava por nenhuma crise existencial, sua crise era material e isso já bastava.

Naquele dia ele visitaria uma velha senhora e esse assunto do latido agudo lhe seria muito útil. Ele era um enfermeiro fisioterapeuta e sua função junto a essa senhora era seguir uma sequência de exercícios para melhorar a musculatura dela. Porém essa mulher sempre insistia, e insistia muito, digo muito mesmo, para que ele narrasse sobre o seu próprio cotidiano. Ele detestava falar de sua vida e obviamente inventava coisas.

Mas naquele tarde ele não inventaria e o latido agudo de um cão perdido no mundo seria o assunto ideal. E assim ele fez. A velha senhora logo interpretou que latidos em geral são manifestações do inconsciente. Ele apenas balançou a cabeça e concordou. A mulher então falou sobre o dia em que foi mordida por um cachorro.

Quando isso aconteceu ela tinha vinte anos de idade e estava transando com um homem bem mais velho que ela, que não a ajudou, apenas pegou o cachorro e foi embora. Foi uma mordida profunda na coxa esquerda bem próximo ao joelho. Essa mordida ardia e tudo que ela fazia era gritar até que ficou sem voz e ali sentiu o que era a solidão.

Com os olhos fixos no seu enfermeiro, a velha senhora disse:

- Esqueça os seus medos, jamais eles se tornarão um assunto barato escutados através da sua porta.

25 abril 2014

Zoravan

Naquele dia de inverno, o seu banho seria gelado.

O velho chuveiro não conseguia esquentar a água e ela decidiu não postergar o banho pois considerava que o odor do seu corpo trazia algo como agridoce.

Lembrou que esse era o mesmo odor de Netuno, um velho barqueiro que navegava em águas cristalinas de cor esmeralda junto com seu fiel escudeiro, que era um turista empolgado que usava sunga cor lilás.

A primeira e única vez que ela os viu foi quando estava desfrutando uma tarde quente numa praia longe de tudo, bronzeava-se e bebia um coquetel que tinha o cheiro de perfume barato, mas era essencialmente refrescante.

Netuno atracou nessa praia, e assim que desceram do barco, o fiel escudeiro de sunga lilás veio na sua direção e mirava fixamente nas suas pernas, o que a deixou incomodada. Ao se aproximar ele perguntou se ela gostaria de fazer uma viagem com Netuno. A resposta foi seca e imediata: "Não!"

Sem se intimidar, o escudeiro se afastou e rebolando ao som da música que vinha do bar, ele se dirigiu ao balcão para pedir uma cerveja. Logo depois ela percebeu que o próprio Netuno estava sentado ao seu lado.

O velho homem de cabelos e barba cinzas, com pele escura e olhos vivos, pousou sua mão sobre a coxa dela. Era um toque morno e ela sentiu um equilíbrio interior que até hoje ela não sabe explicar. Em seguida Netuno lhe disse:

-Minhas viagens são errantes e se perdem no tempo.

E ali os dois ficaram em silêncio até o sol sumir no mar. Netuno e seu escudeiro embarcaram e sumiram no horizonte assim como a luz daquele dia.

08 março 2014

Piso

O piso era escorradio, ela não conseguia se manter em pé. Até pouco tempo, o seu destino não parecia lhe levar para esta situação sem equilíbrio. Lembrou de toda a sua vida...

Seu nome é Sílvia e um dia ela fez dormir un homem que não dormia há três dias porque tinha medo de dormir e nunca mais acordar. Após cobri-lo com um lençol rasgado, Sílvia desejou que ele morresse...

Ela vivia em função de seus próprios desejos, encontrar a satisfação de cada desejo lhe movia aceleradamente. Sempre foi, de certo modo, um caminho para encontrar seu espaço no mundo.

Sem equilíbrio, ela experimentou pela primeira vez a ocasionalidade das coisas.

Desejos e equilíbrios se entendem? Perguntou a si mesma enquanto seu corpo se direcionava àquele piso...

25 fevereiro 2014

Alheios movimentos

Observei os movimentos dela. Antes de encostar o café nos lábios, ela manipulou o celular com rapidez e precisão. Havia uma mensagem firme ali. Seus olhos estavam concentrados.

Enfim a degustação do café.

Não houve reação, a bebida não incorporou nenhuma diferença significativaa àquele seu momento.

Pelo menos ela colocou pouco adoçante. O sabor do café foi pouco machucado.

Ela tirou da bolsa vermelha dois cartões de visita e os leu com atenção, parecia que precisava decidir algo muito importante. Deixou os cartões em cima da mesa e se distraiu com a conversa dos atendentes no balcão. Seus dedos dedilhavam com força na mesa, consegui escutar de longe. Parecia um tique.

Achei estranho que ela demorava a tocar novamente no celular. Refleti sobre o quanto pode ser bom enviar uma mensagem que não precisa de resposta.

Os seus movimentos não eram tão atraentes, fiquei pensando no que faz me aproximar dos movimentos alheios. Achei fútil que isso seja um exercício para a minha imaginação.

Ela se levantou, foi embora e percebi que os dois cartões de visita haviam ficado sobre a mesa.

Foi aí que notei o quanto a conversa dos atendentes era bem interessante e passei a observar os movimentos deles enquanto saboreava a terceira xícara de café sem adicionar açúcar ou adoçante, obviamente.

15 fevereiro 2014

Arraes

O Miguel Arraes foi um grande e inteligente político. Lembro que ele era um dos comunistas que a minha mãe com frequência mencionava quando eu era criança. Se era de fato ou não um comunista, nunca tive a oportunidade de saber na real, mas ele foi um dos meus grandes exemplos de luta anti-FHC, enfrentou fortes batalhas políticas por conta de sua oposição quando foi governador de Pernambuco de 94 a 98. Tristemente, assim como eu, viu a reeleição de FHC e amargou sua não reeleição perdendo a vaga do Palácio das Princesas para Jarbas Vasconcelos, um dos bastiões neoliberais.

Eis que dois de seus legados, o PSB e seu neto Eduardo Campos caminham por uma oposição esbravejada para conduzir um novo rumo pra política nacional, porém pouco contundente nos caminhos que quer seguir. Considero que isso não reflete um novo em essência e carrega pouca clareza na sua relação com os avanços históricos dos últimos dez anos. Campos diz que dará um novo sentido nesses avanços, não enxergo isso e a aproximação com Marina Silva pode soar oportunismo, mas não é,  é sim uma tentativa de agregar modernidade (ou posmodernidade) a uma frente poítica que a meu ver está empolgada em ser uma outra oposição, sem necessariamente ser um exemplo de ação política. Lembremos que muitas das boas transformações que se viu em Pernambuco no governo de Campos foi graças a uma forte articulação federal.

Obviamente e democraticamente, Campos, Marina, e seus seguidores possuem todo o direito de agir dessa forma. Apenas manifesto aqui minha discordância em função do valor que Miguel Arraes construiu como pensamento político, ou melhor, como forma de se posicionar diante dos desafios que uma sociedade precisa enfrentar para constituir seus avanços não somente econômicos, mas principalmente sociais.

Arraes se posicionava sempre por uma luta maior, jamais pessoal e orgulhosa. Isso lhe custou enfretar dificuldades sem precedentes enquanto governador de Pernambuco durante os anos neoliberais de FHC. Foi coadjuvante na corrida presidencial de 2002, compreendia seu próprio papel e mesmo inicialmente como concorrente de Lula (o PSB lançou a candidatura de Garotinho em 2002), o seu lado era o lado das classes menos favorecidas e da luta pela transformação social, e de 2003 até a sua morte em 2005, apoiou o governo mais progressista de nossa história.

Saudades desse comunista da minha infância. Mas enfim, Arraes se foi e prefiro lembrar de sua trajetória quando leio os movimentos de seu neto nos dias de hoje.

30 janeiro 2014

Paradas

O sol potencializa o calor naquela parada de ônibus. Hélcio Guerra espera a condução incerta, mesmo suando não deseja que o ônibus passe tão logo. Poderíamos pensar que a motivção é uma garota, mas o que lhe faz pensar naquele momento é a vontade de não sair do lugar.

Renatinha, com seus cabelos longos e menos de 1,60m de altura, está do outro lado da rua, numa sombra fresca e ansiosamente aguarda seu coletivo. Ela pensa em sua filha que está aprendendo a ler, gosta de ouvir a sua pequena se esforçando para narrar todas as palavras que encontra pela frente. Com a nuca suada suspende os cabelos com as mãos, deseja uma cerveja.

O sol faz um pequeno aglomerado de pessoas sob um pequeno toldo de uma lanchonete, Hélcio se espreme ali. Os rostos ao seu redor demonstram ansiedade e cansaço, ele está longe disso, uma inércia interior lhe consome. Não sabe o que decidir.

O ônibus se aproxima da parada e Renatinha percebe que esqueceu o celular em casa. A dúvida lhe consome e mais, ela se desconforta quando perde o controle das coisas. O celular é necessário em sua vida, lembra novamente da filha, Renatinha se sente na obrigação de estar conectada.

Renatinha esbarra em Hélcio, entra na lanchonete com passos pesados e pede um refrigerante, na mente ela diz um foda-se à sua dieta. Hélcio Guerra não tem filhos para lembrar, abandonou a dieta faz tempo e na mente diz um foda-se a tudo.

14 janeiro 2014

Navegantes - Programa 5

Quando: 8 de fevereiro de 2014
Onde: Editora FiloCzar - Rua Durval Guerra de Azevedo, 511 Pq. Sto Antonio
Horário: 18h
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"Praça Walt Disney", de Renata Pinheiro e Sérgio Oliveira (PE)


"ARUANDA"
PB / 21 minutos / 1960
Dir: Linduarte Noronha
Sinopse: Os quilombos marcaram época na história econômica do Nordeste canavieiro. A luta entre escravos e colonizadores terminava, ás vezes, em episódios épicos, como Palmares. Olho d´Água da Serra do Talhado, em Santa Luzia do Sabugui (PB), surgiu em meados do século passado, quando o ex escravo e madeireiro Zé Bento partiu com a família à procura de terra de ninguém.

"MEGALÓPOLIS"
SP / 11 minutos / 1973
Dir: Leon Hirszman
Sinopse: Mostra como a falta de planejamento urbano no Brasil´é uma doença sem tratamento e como o eixo Rio-São Paulo já estava saturado na década de 1970.

"PRAÇA WALT DISNEY"
PE / 21 minutos / 2011
Dir: Renata Pinheiro e Sérgio Oliveira
Sinopse: Boa Viagem, Recife PE, 51111-260, Brasil.

"ALPHAVILLE 2007 D.C."
SP / 16 minutos / 2007
Dir: Paulinho Caruso
Sinopse: Uma ficção científica sobre o terceiro mundo.