12 outubro 2009

Sem braços em Paraty

Viagem.
O que pode siginifcar uma viagem?
Marcelo Gomes e Karim Ainouz nos respondem a essa pergunta com um poético filme cuja narrativa é capaz de jogar intensamente com as mais inquietantes reminiscências.

Desse jogo eu participei sentado numa escada de madeira numa chuvosa noite de sábado. Cheguei atrasado e o Cine Teatro Paraty estava tomado para a experiência de "Viajo porque preciso, volto porque te amo". Cada estrada, cada pensamento e personagem iluminava não somente um pedaço da consciência mas trazia um balde de água para ser derramado sobre as minhas incertezas acerca do que se é capaz de elaborar com a narrativa cinematográfica.

O assento duro da escada incomodava, mas a tela do cinema utilizava toda sua gravidade para me deixar cada vez mais sentado. O filme termina e a perceção mais imediata é que o fim sempre se aproxima.

Eis que chega ao fim também o Festival de Cinema de Paraty, que na sua segunda edição fez de sua programação algo muito único pela sua variedade mas também por abrir um diálogo com o cinema que se faz tão próximo. Recentemente questiono muito se existe um esgotamento das narrativas nos filmes, mas cada vez mais percebo que preciso realmente definir a palavra esgotamento, pois o fim da linha surge e a reação mais necessária é fazer surgir um novo começo.

Longe desses pensamentos sentei para assistir ao City Island na sessão de abertura, na qual minha observação mais contundente era a ausência de braços nas poltronas do Cine Teatro Paraty, uma charmosa sala de exibição à espera de uma revitalização completa. Muito próximo dessas e de outras reflexões deixarei Paraty, gostei da visita.

Preciso viajar porque o cinema está ao redor, volto porque amo tudo ao redor.