28 janeiro 2011

Tiradentes - Dia 1 Parte Um


O dia 1 começou no dia zero.
Sob águas torrenciais cheguei à rodoviária Tietê em São Paulo para pegar o ônibus que me levaria a São João Del Rei, de onde seguiria para a cidade de Tiradentes.
Mas como todo bom dia de chuva na paulicéia, tudo parou e os horários de partida dos ônibus atrasaram significativamente.

Pouco antes da zero hora do dia 1 eu estava carregando meu celular quando uma moça perguntou se ela poderia usar meu carregador por 5 minutos. Nessa ocasião ela estava acompanhada de seu noivo, um rapaz de feições orientais, que logo depois foi embora.

Continuei ao lado do carregador e num determinado momento a moça se aproximou e fez um telefonema para a sua mãe informando o atraso do ônibus e dizendo que ficou sozinha, pois seu noivo teve que ir por conta do metrô, que logo encerraria as operações. Assim que ela desligou, uma outra moça de cabelos tingidos e voz extremamente fina, quase chorosa, brigava com o funcionário da viação, que respondia sempre com um sorriso simpático no rosto. São Paulo estava parada.

Quarenta minutos depois ouvi a noiva conversando com o noivo por telefone. Ela o questionava por não ter ficado um pouco mais, ele parecia se justificar pelo horário do metrô, mas ela insistia. Eles se despediram friamente. Fiquei observando o rosto dela, parecia desolada, mas acredito que muito de sua expressão era cansaço. A moça de cabelos tingidos novamente brigava com o risonho funcionário.

O ônibus apareceu na plataforma 4 horas depois do previsto e à 1h30min da madrugada rumei às Minas Gerais para acompanhar a 14ª edição da Mostra de Cinema de Tiradentes.

O dia 1 foi bastante intenso, participei inicialmente da reunião do Fórum dos Festivais, onde houve importantes debates sobre os desafios dos eventos, principalmente na relação com instituições governamentais como Ancine e SaV/Minc. Após a reunião me dirigi ao Cine Tenda para acompanhar uma sessão de curtas.

O primeiro filme foi o documentário “Aeroporto” de Marcelo Pedroso (PE), cujo início é uma moça num aeroporto observando as pessoas em volta, no restante do filme aparecem diversas experiências de viagens de pessoas distintas. Logo lembrei da minha experiência recente na rodoviária e como o fato de observar pessoas é de certa forma similar à construção de um documentário, mesmo que ele fique apenas na sua cabeça. As duas moças (a noiva e a de cabelos tingidos) viviam a experiência da inquietação. O caos da cidade e o reflexo no atraso dos ônibus geraram um ambiente extremamente hostil para ambas. Isso me fez refletir se essa inquietação era o fruto das ações de uma metrópole ou se fazia parte de algo intrínseco à personalidade de cada uma. Mas a pergunta que fica é se eu precisaria entrevistá-las para ter acesso a isso ou se basta apenas o que meus olhos registraram.

No curta de Pedroso, uma de suas forças está na dinâmica das experiências de viagens, que são histórias comuns, mas com uma intensidade que parece ser transformadora para cada pessoa que a viveu. Observamos constantemente as pessoas, mas o que fica a partir de cada observação? Acredito que muito mais do que julgamentos morais podemos avaliar o quanto cada experiência também faz parte de nós mesmos e assim avançarmos no nosso autoconhecimento.

A sessão encerrou com outro curta pernambucano: “Mens Sana in Corpore Sano”, ficção dirigida por Juliano Dornelles. Iniciando como um documentário, acompanhamos a rotina de um fisiculturista, principalmente seus treinamentos. Aos poucos temos acesso às perturbações em sua mente na rígida missão de atingir a excelência no esporte. Quando o filme se estabelece definitivamente na ficção, o espectador é levado a uma das mais inusitadas experiências.

Novamente a observação como expressivo elemento narrativo. Ao acompanharmos a rotina daquele homem, como poderíamos apreender as inquietações de sua mente? O diretor nos levou a elas diretamente, deu um passo que meus olhos jamais poderiam dar, mas eu poderia usar a imaginação, levando ou não às conseqüências apresentadas por Juliano.

Saí da exibição pensando sobre o ato de observar e se existe necessidade de ir além. Como chegar naquilo que define as angústias e inquietações, propulsoras de nossos atos? Lógico que a resposta não se encontra tão facilmente, mas novamente o primeiro e o último filme de uma próxima sessão me trariam elementos para pensar mais um pouco sobre o assunto.

Continua na parte dois (em breve)

19 janeiro 2011

Nhamundá/AM

Em 2001 conheci um cara que tinha sido da marinha e serviu em Manaus por um tempo, lá se juntou com uma amazonense, largou a marinha e comprou um barco. Nessa época ele trabalhava para um alemão que passava seis meses no Amazonas gravando para fazer documentários para circularem em TV européias. Nos outros seis meses do ano, o barco e o equipamento de câmerado alemão ficava com esse camarada que eu conheci.

Como um legitimo marinheiro e barqueiro, ele conhecia bem os rios do Amazonas e numa de nossas conversas ele comentou que conheceu o lago do Espelho da Lua, que ficava junto ao rio Nhamundá, cuja beleza ele ressaltou com propriedade. Afirmou que era uma região que precisava ser conhecida.

Desde então sempre tive a vontade de conhecer o rio Nhamundá.

Eu havia lido a respeito do lago Espelho da Lua numa pesquisa que fiz sobre as indias guerreiras que atacaram os espanhóis quando estes navegaram pela primeira vez pelo rio que conhecemos hoje como Rio Amazonas. Essas índias, fora o relato dos espanhóis e de alguns indios prisioneiros deles, nunca foram vistas por mais ninguém, mas eram cercadas de lendas.

Francisco Orellana, o explorador espanhol que as enfrentou, chamou essas guerreiras de Amazonas, não porque estivessem a cavalo, mas como referência às míticas guerreiras gregas da antiguidade, que tiravam um dos seios para melhor empunhar um arco de flechas.

Amazonas vem do grego, 'mazo' seria seio, 'a-mazo' seria não seio ou sem seio, daí o termo 'amazona'.

E segundo consta, esse confronto de onde sairia o nome do maior rio do mundo, aconteceu nas proximidades do rio Nhamundá, o qual deságua no rio Amazonas. Conforme o relato dos índios presos por Orellana, essas índias guerreiras eram de uma tribo poderosa que não admitia homens, as únicas aproximações eram apenas com intuito de reprodução uma vez ao ano, e ainda acrescentou que as crianças de sexo masculino quando nasciam eram doadas ou sacrificadas. Elas tinham o costume de se banhar num lago chamado Espelho da Lua, onde tiravam de seu leito pequenos amuletos esverdeados com formato de sapo em sua maioria, que eram conhecidos como muiraquitãs.

Janeiro de 2011, fui conhecer o rio Nhamundá.

Lago Espelho da Lua:



Pois é, sou muito ruim para tirar autoretrato.

Mas como eu cheguei a esse recanto das Amazonas?

Eu estava de férias em Manaus e resolvi fazer uma viagem pelo rio Amazonas. Escolhi ir a Parintins, cidade conhecida pela festa de Boi Bumbá que acontece em junho. Parintins fica às margens do rio Amazonas, próxima ao rio Nhamundá, e este faz a divisa do estado do Amazonas com o Pará. Portanto fui com o forte intuito de chegar até o Espelho da Lua.

Em Parintins, conheci Trindade, que é irmã de uma colega de trabalho da minha mãe. Falei para Trindade que eu planejava ir conhecer o rio Nhamundá e também o Espelho da Lua, logo ela me informou que tem uma outra irmã que mora na cidade de Nhamundá e que junto com o marido poderiam me ajudar. Peguei uma lancha em Parintins e de lá rumei à Nhamundá, que é uma charmosa ilha cercada pelo rio de mesmo nome.

Nhamundá:





Como cheguei em Nhamundá:
De Parintins tem lancha que sai diariamente. Em janeiro de 2011 o valor da passagem foi de R$ 40,00.
Para se informar sobre horários e tarifas, o melhor é ir diretamente ao porto e perguntar. Não há um balcão de informações nem site, precisa ser no boca a boca ou então checar junto a algum morador de Parintins.
Em janeiro de 2011, o porto de Parintins estava em reforma, então os barcos atracavam na beira atrás do mercado central. Quando as reformas estiverem concluídas, parece que o porto estará em melhores condições para atender passageiros e turistas.
A duração da viagem até Nhamundá depende do nível do rio. Como estive no período de início das cheias, a viagem durou 2h30min. Em época de cheias, a viagem dura aproximadamente 1 hora. Na época de seca/vazante, a viagem pode durar até 5 horas.
Tudo isso porque para cada época do ano, a lancha segue uma rota diferente.
Também existem barcos que saem de Manaus/AM e de Santarém/PA. Essas viagens são mais longas e as informações são encontradas nos portos de cada cidade.
Para voltar à Parintins é preciso verificar o horário da lancha junto aos moradores de Nhamundá. Existe um serviço de mototáxi que entrega a passagem à domicílio e no dia seguinte leva a pessoa até a lancha, cobrando apenas o valor da passagem.

Assim que cheguei à Nhamundá fui recebido por Francisco Brilhante, cunhado de Trindade. Brilhante, como é conhecido, chegou em Nhamundá há mais de 20 anos e hoje é proprietário de uma drogaria e uma lan house. Ele também é muito ligado à área da saude e desenvolve um projeto social bem interessante que leva periodicamente médicos de diversas especialidades para Nhamundá e também montou um laboratório para análises clínicas essenciais. No período que estive em Nhamundá foram muito boas as conversas com Brilhante, conversamos sobre assuntos diversos. Ele acredita no potencial turístico da cidade, que a partir de uma infra-estrutura básica pode ser um forte elemento econômico para Nhamundá.

Para se hospedar em Nhamundá existem algumas pousadas, são simples, mas confortáveis e com ar condicionado. Fiquei numa localizada em cima do Supermercado Mateus, cujos donos possuem essa pousada. Quarto amplo, frigobar, TV, ar condicionado e café da manhã. Paguei R$ 30,00 pela diária.

Ruas de Nhamundá:






A cidade é bem agradável, urbanizada e hospitaleira. A estrutura para turismo ainda é muito pequena, para informações e qualquer passeio é necessário ter a colaboração de algum morador local.

O rio Nhamundá faz a divisa entre os estados do Amazonas e do Pará. Como Nhamundá é uma ilha, um de seus lados dá de frente paro o estado do Pará. A cidade paraense mais próxima é Faro, que visitei no dia seguinte à minha chegada. Uma curiosidade: o Pará segue o horário de Brasília, com a exceção do período do horário de verão, dessa forma, Faro está 1 hora a frente de Nhamundá.

Para comer há poucas opções de restaurantes. À noite, o que é comum são as bancas de churrasquinho, montadas nas ruas ou nas próprias casas de moradores. Em geral os churrasquinhos tem acompanhamentos diversos e se tornam uma verdadeira refeição.

Bancos: tem o Bradesco e clientes da Caixa Econômica Federal podem utilizar as lotéricas.

Internet: a cidade possui várias lan houses.

Os veículos mais utilizados na cidade são a moto e a bicicleta. Nhamundá é uma ilha e é possível cruzar a cidade a pé, sem muitos problemas, inclusive recomendo pois é uma ótima cidade para caminhadas.

Conversei com o Brilhante sobre a minha vontade de passear pelo rio Nhamundá e conhecer o lago Espelho da Lua. Ele me indicou o seu Eurico, um senhor que possui uma rabeta e que conhece muito bem toda a região. A rabeta seria o transporte mais barato para fazer tal percurso. A outra opção seria ir de voadeira, mas o consumo de gasolina seria maior, representando mais gasto. Como eu estava sozinho, sem ninguém para dividir as despesas, realmente eu precisava de algo mais viável.

Para se ter uma idéia de valores em termos de duração da viagem até o Espelho da Lua e o gasto com combustível:
Voadeira: 2h30min - R$200,00
Rabeta: 5h - R$60,00
(Vale observar que são valores em janeiro de 2011)

A diferença entre uma rabeta e uma voadeira está no motor, o da segunda é muito mais potente.

O Brilhante e o seu Eurico montaram o roteiro da viagem:
-Saída pela manhã de Nhamundá por volta das 8h.
-Viajar até a serra do Espelho da Lua
-Na serra se hospedar na casa do seu Brito, conhecido como Britinho.
-Na serra conhecer o lago Espelho da Lua e subir até a antena da Alcoa, que lá está instalada.
-Dormir na propriedade do Britinho.
-No dia seguinte seguir viagem e conhecer duas comunidades na entrada do rio Paratucu.
-Voltar para Nhamundá por volta do meio dia.

A sugestão do rio Paratucu foi dada por eles, pois dizem que é uma região cuja beleza impressiona tanto quanto o rio Nhamundá.

Fundamental foi a compra de suprimentos para a viagem: rancho (conservas, leite, chocolate, farinha, biscoitos, açúcar, água e refrigetante), uma capa de chuva, um plástico preto grosso para cobrir as coisas pessoais na rabeta, pois esta não era coberta, e gelo. Fora isso o Brilhante me arrumou uma rede, lençol e um isopor para colocarmos o gelo. Sugiro também não esquecer de levar protetor solar, repelente e medicamentos para urgência e primeiros socorros.

Acordei no dia seguinte, me encontrei com o seu Eurico na casa do Brilhante e partimos rio Nhamundá adentro. Após quase dez anos, iniciei uma viagem que sempre quis fazer.

Saímos de Nhamundá por volta das 9h da manhã.

Seu Eurico, o barqueiro:


Rio Nhamundá:




Rio Nhamundá. Do lado esquerdo é o estado do Amazonas, do lado direito é o estado do Pará:



Nessa época do ano, as margens do rio Nhamundá estão repletas de praias. Na época das cheias, muitas delas somem:




No meio da viagem paramos em uma das margens do lado paraense. Abaixo seguem as fotos. A experiência é indescritivel. Um silêncio não silencioso com o barulho da água do rio e o som dos pássaros em volta. Tudo a fazer é olhar ao redor, sentir a floresta amazônica em sua essência e abrir o coração.

(A praia e a rabeta de nossa viagem)





Novamente um tosco autoretrato, garanto que é o último.

Por volta das 13h30min chegamos à serra do Espelho:


Seu Eurico atracou a rabeta e fomos ao encontro do seu Britinho que estava deitado em uma rede. Logo começamos uma boa conversa. Britinho tem muitas histórias de encantos e lendas, ele viveu a vida inteira no meio da selva. Ali na serra ele vive com a esposa e filhos em uma casa sem luz elétrica nem água encanada. Os filhos estudam em escolas localizadas nas comunidades próximas.

O Britinho me contou que em frente à serra, do outro lado do rio, é que ficava a aldeia de mulheres, as lendárias 'amazonas', e que elas vinham tomar banho no lago do lado de cá da margem.

Após a conversa seguimos ao lago do Espelho da Lua:


Pra mim foi muito especial conhecer o Espelho da Lua, parecia que eu fechava um ciclo, não sei explicar. Sentamos às margens do lago e ficamos conversando. Aquele verde em volta e os ruídos da floresta me descansavam o cérebro.

Após a visita ao lago, voltamos para a casa e almoçamos. Depois da comida descansamos um pouco e em seguida subimos a serra até chegar na antena.

Toda essa região do rio Nhamundá está sob proteção do Ibama. Segundo Britinho, a região também abriga muitas riquezas como ouro e esmeraldas, mas ainda estão intocáveis e não por acaso ele diz receber a visita de muita gente do mundo inteiro, muitos deles chegam com aparelhos e vasculham a região fazendo medições.

Outra riqueza presente no solo e a olhos vistos é a bauxita. A Alcoa, que já explora esse minério na divisa do Pará com o Amazonas, tem olhos grandes sobre aquela terra, mas não pode fazer nada, apenas colocou uma antena no alto da serra para facilitar a comunicação entre seus trabalhadores na Amazônia. Britinho está ali para manter o acesso à antena e também para cuidar da serra evitando apropriações e desmatamentos indevidos.

Vista do rio Nhamundá a partir do alto da serra:



Anoiteceu.

Era noite de lua cheia:


Seu Eurico e eu dormimos do lado de fora embaixo de uma cobertura de palha. Montamos nossas redes e ali encostamos. No meio da noite, Britinho veio até nós e nos contou novas histórias. Tanto ele quanto seu Eurico já passaram dias sozinhos na selva, pernoitando em barracas improvisadas ou até mesmo no chão encostados em árvores.

Entre as inúmeras histórias que eles contaram, estão aquelas em que eles encontraram objetos perdidos no meio da selva. Em geral objetos que claramente mostravam que naquele local onde estavam, já havia sido uma aldeia. Seu Eurico contou que uma vez ele e uns amigos encontraram um vaso com duas abas enterrado no chão. Os amigos quiseram arrancar o vaso do solo, mas ele estava meio receoso e sugeriu que fizessem isso na volta, o grupo estava na mata coletando copaíba. Quando voltaram, não encontraram mais o lugar do vaso, segundo Eurico, eles foram encatados pelos espíritos da selva que fizeram sumir o vaso, ou o mudaram de lugar.

Britinho contou uma vez que ele estava dormindo na selva e em sonho vieram mulheres e lhe cantaram três músicas. Ele as guardou e uma delas acabou se tornando uma toada do boi Garantido, de Parintins. Ambos contam que à noite na selva se escuta de tudo: gritos, vozes, ruídos, choros e até tiros. São os encantos e espíritos da floresta. O mais interessante de observar é que eles contam tudo isso com um respeito à floresta, como um lugar que tem uma força e que não pode ser subestimada.

Enfim, a hora de dormir. As carapanãs (mosquitos) não deram trégua, cobri o corpo inteiro com o lenço, mas impossível pegar no sono com o zumbido que elas faziam no pé do ouvido. Por volta de meia noite caiu um temporal, uma tempestade muito forte com raios e trovões. As carapanãs sumiram. Aproveitei e com a cabeça para fora do lençol fiquei observando aquele espetáculo de chuva. a cobertura de palha aguentou firme, nenhum gota em cima de nós. Britinho até perguntou se queriamos entrar para a casa dele, mas resolvemos ficar.

Adormeci.

Acordei por volta das 7h, havíamos combinado de ir cedo para as comunidades do rio Paratucu. Quando olhei para os meus braços eu tomei um susto, parecia que eu estava com sarampo, todo cheio de pontinhos vermelhos, as carapanãs não perdoaram. Mas curiosamente essas picadas não coçavam nem ardiam.

Levantei da rede e eis a paisagem à minha frente:


Fiquei por um bom tempo olhando para essa paisagem, com uma certa meditação e um fortalecimento da minha espiritualidade.

Tomamos um café da manhã e em seguida nos despedimos de Britinho e sua família. Abaixo ele de costas caminhando às márgens do rio Nhamundá, prefiro ter esse registro do Britinho, integrado à essa natureza dos encantos de suas histórias.


Seguimos a viagem.
Assim que saimos da serra do Espelho fomos acompanhados por botos, que pulavam um pouco a frente da rabeta.

Infelizmente não chegamos a entrar no rio Paratucu, pois o tempo estava muito instável e o seu Eurico recomendou que voltássemos antes do meio dia para Nhamundá. Mas fomos até uma comunidade chamada Castanhal, localizada no encontro dos rios Paratucu e Nhamundá.

Comunidade Castanhal:


Nessa comunidade visitamos a líder do local, que é uma das moradoras mais antigas. Conversamos com ela e o marido por um tempo antes de darmos uma volta pelo lugar. Eles moram sozinhos, pois todos os filhos (se não me engano são quatro) estão em Parintins ou em Manaus, quase todos haviam feito universidade e estavam bem encaminhados na vida.

Abixo foto da vista da comunidade. À esquerda o rio Nhamundá segue entrando na selva e vai até quase perto da Guiana. À direita está a entrada do rio Paratucu.


Por volta das 11h entramos na rabeta e seguimos de volta para Nhamundá.
A viagem de volta foi tranquila e um pouco mais cansativa. Paramos para almoçar numa praia, dessa vez do lado do Amazonas.
Nuvens carregadas nos acompanharam por boa parte da viagem, mas apenas quando estávamos bem perto de Nhamundá que ela caiu forte sobre nós. E bem forte. Seu Eurico segurou firme o manche da rabeta e chegamos sem problemas por volta das 15h.

No dia seguinte voltei para Parintins e levei comigo ótimas recordações da minha passagem por Nhamundá, fiz bons amigos, relaxei a mente e tive um contato com a floresta como jamais havia tido.

No final da tarde dei uma volta pela cidade para me despedir num por do sol às margens do rio Nhamundá:

18 janeiro 2011

Parintins

Parintins é uma cidade do estado do Amazonas, localizada às margens do rio Amazonas, próxima à divisa com o estado do Pará.

Com quase 100 mil habitantes, Parintins é urbanizada, possui serviços diversos e conta com boas redes de restaurantes e hotéis. A cidade é muito conhecida pelo festival folclórico de Parintins, com as apresentações de Boi Bumbá, o evento acontece anualmente no último fim de semana do mês de junho, onde ocorre a disputa entre os bois Garantido (vermelho) e Caprichoso (azul). Como há muita informaçaõ na internet sobre esse festival e sobre os bois, não comentarei sobre eles aqui nesse texto, me concentrando apenas na viagem que fiz em janeiro de 2011.

Como chegar em Parintins:

A partir de Manaus, capital do Amazonas, há três opções: barco, lancha e avião.

Barco (também conhecido como motor):
-A viagem de ida dura em torno de 18 horas, a viagem de volta pode levar até 21 horas.
-Os barcos saem do porto da Manaus Moderna, atrás do mercado municipal Adolpho Lisboa.
-Em janeiro de 2011 o preço da passagem de ida era R$ 70,00.
-Melhores informações diretamente no local.

Lancha:
-A viagem dura aproximadamente 10 horas.
-As lanchas saem de um porto próprio da Manaus Moderna, atrás do mercado municipal Adolpho Lisboa.
-Em janeiro de 2011 o preço da passagem de ida era R$ 150,00.
-Melhores informações diretamente no local ou pelos fones (92) 9984-9091 e (92) 9119-4389

Avião:
-A viagem dura 1 hora.
-Os vôos saem do aeroporto Eduardo Gomes.
-Linhas áeras: Trip, TAM.
-Informações pelos sites das companhias aéreas.

Bancos:

 
Parintins só possui os seguintes bancos: Bradesco, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Banco da Amazônia.
Não possui caixa da rede 24 horas.
Muitos lugares aceitam cartões como forma de pagamento, mas recomendo não contar com isso sempre.

A viagem de lancha
:

Fui de lancha e cabe observar algumas coisas. Elas não operam todos os dias, e cada dia é uma lancha diferente. Apesar do preço ser sempre o mesmo, a qualidade das lanchas variam muito. As diferenças estão no conforto dos assentos e nos serviços de bordo como almoço e lanche.

Outra coisa interessante é que o público local não curte muito viajar de lancha, apesar de ser uma viagem mais rápida do que de motor, ele não gostam do fato de ficar muitas horas sentados e com pouca visibilidade. Na viagem de motor, há mais liberdade de circulação, desfruta-se mais da paisagem e é sempre comum interagir com outros passageiros. Então a dica é sempre avaliar a relação da viagem com o tempo.Isso é fato: viajar pelo Amazonas requer tempo, muito tempo, pois os deslocamentos de barco são longos e demorados.

A vantagem da lancha é sair e chegar no mesmo dia, é uma opção não tão barata, mas muito mais em conta que o avião e mais rápida que o motor.

Visita à Parintins:

Saí de Manaus debaixo de muita chuva, a lancha seguiu pelo rio Amazonas e fez três paradas: Itacoatiara, Boa Vista do Ramos e Barreirinha. A beleza da viagem está em ver o rio Amazonas, imenso, muito agitado e forte.

Assim que a lancha se aproxima de Parintins, vemos a bandeira do boi Garantido que está hasteada no curral desse boi. A lancha aporta no centro da cidade atrás do mercado municipal. O porto oficial de Parintins está em obras em janeiro de 2011, quando estiver pronto deverá oferecer uma boa estrutura.

Cheguei e fui caminhando para a pousada Rio Doce, que é um lugar confortável, boas instalações, quartos grandes e espaçosos. Aceita cartão. Tem piscina. O preço que paguei nessa época do ano pela diária foi de R$ 50,00.

No dia seguinte caminhei pela cidade. Comecei tomando café da manhã no mercado municipal, há lanchonetes que servem várias opções, recomendadíssimo.

Em seguida fui até o Bumbodromo, estava fechado e o vi apenas por fora. Depois fui até o curral do Garantido, que fica no bairro do São José, um bairro simples e agradável.



Na volta vim pela orla e parei num dos lugares que mais recomendo em Parintins: o restaurante/peixaria Coroa's. Localizado às margens do rio Amazonas, tem um atendimento muito bom, preços ótimos, boas refeições, uma vista maravilhosa e aceita cartão.


A vista do restaurante Coroa's:

Lá conheci algumas pessoas, amazonense adora puxar papo e para se sentir solitário em algum lugar do Amazonas é preciso muito esforço. Foi uma tarde agradável, comi um delicioso peixe, tomei cerveja e conversei bastante. Uma das pessoas que conheci não era do Amazonas e sim paulista, uma rapaz professor da PUC-SP chamado Daniel. De lá fomos ao curral do Caprichoso onde segundo ele haveria um ensaio de boi.

Quando chegamos lá, o que havia era um grupo de jovens jogando bola, entrei num time-fora e logo entrei em quadra. Senti o peso dos meus 36 anos quando tive que marcar moleques de 18,mesmo assim aguentei firme durante 5 partidas, o nosso time era bom, quando enfim perdemos, pendurei a chuteira e fui embora.


À noite fui com o Daniel em uma casa noturna de Parintins chamada Rancho do Taperebá. Era um sábado e teve apresentação de duas bandas e um DJ. O local começou a lotar por volta de 1h da madrugadas. Lugar animado e bem democrático.

Em Parintins conheci uma moça chamada Trindade, ela é irmã de uma colega de trabalho da minha mãe. Foi ela que me deu todas as dicas e ajudas para ir à Nhamundá, viagem que foi uma verdadeira imersão na Amazônia.

No domingo acordei, tomei o café da manhã no mercado e no meio da tarde peguei a lancha para Nhamundá.










Considerações gerais:

Parintins é uma cidade bem agradável, visitei a cidade fora da época do festival folclórico, então vi muita tranquilidade, ótimo para fugir de rotinas e descansar.
A cidade está bem desenvolvida, tem serviços básicos e está equipada com universidades (federal, estadual e particulares).
A hospitalidade é ímpar, assim como em todo o Amazonas, as pessoas te recebem bem e são atenciosas. Faz-se amizades rapidamente e o tratamento é como se fossem amigos há anos.
Como qualquer destino turístico do Brasil, as informações de passeio nem sempre são fáceis e as estruturas locais não colaboram. Por isso é sempre bom conhecer alguém da cidade. Quando voltei de Nhamundá, a Trindade e um amigo dela me levaram para conhecer mais a cidade, tudo só era possível de carro ou moto.
A proximidade com locais é sempre positiva, pois nos faz compreender melhor certos aspectos da cidade, que para um viajante ou turista são quase inacessíveis.

13 janeiro 2011

Terra Nova - 3 Atos

I - O Barco de Ida - A Tempestade

Fui passar um sábado num flutuante que fica no Rio Amazonas no município de Terra Nova, interior do Amazonas. A viagem de ida foi em uma lancha rápida que sai do porto da Manaus Moderna. Horário de saída: 8:30h. Eu estava acompanhado do Tota (marido da minha mãe) e de seu amigo de longa data chamado Carlos.


O barco vai lotado, pois ele atende às comunidades ribeirinhas, então logo após o Encontro das Águas ele vai desembarcando as pessoas ao longo do caminho. Atracada à popa do barco vai uma lancha conhecida como voadeira que é utilizada para o desembarque das pessoas. Como? É o seguinte: o passageiro informa à tripulação onde deseja descer, na altura do local o barco desacelera para que esse passageiro possa entrar na voadeira, que o leva até a beira do rio.

(para quem não conhece o Encontro das Águas assista aqui: 'seja bem vindo ao encontro das águas')

Abaixo o piloto da voadeira arrumando o motor de popa em pleno temporal para não deixar ninguém na mão.



Enfretamos um forte temporal, mas isso não impede o desembarque via voadeira, pois todos precisam chegar aos seus destinos. Eu presenciei o embarque de uma senhora de aproximadamente 70 anos de idade que o fez com invejável maestria.

A viagem até o nosso destino durou aproximadamente 1h30min.

Abaixo um vídeo para melhor visualizar a embarcação e a chuva que caía no rio Amazonas.


II - O Flutuante do Jorge - Pescaria Frustrada

Chegamos tranquilamente no flutuante, que pertence a um homem chamado Jorge, amigo do Tota e do Carlos. Assim que chegamos, o Carlos preparou linha e anzol para pescarmos. Não curto muito o exercício da pescaria, mas topei porque já posso dizer que pesquei no rio Amazonas, ou melhor, quase pesquei, porque não tive sucesso e nenhum pescado amazônico foi furado com o meu anzol.

Mas o dia foi maravilhoso, ficamos no flutuante, bebendo uma cerveja gelada, ouvindo o silêncio da Amazônia e observando o rio Amazonas, com sua forte correnteza e os botos que surgiam a todo instante. O almoço foi servido pela esposa do Jorge, que preparou uma deliciosa caldeirada de surubin, o peixe havia sido pescado por eles no dia anterior.

Às 14h chegou a hora de voltar.

III - O Barco de Volta - Verduras Amazonenses

Única opção de volta para o mesmo dia é o motor Queiroz Neto II, que atraca no flutuante diariamente. Ele sai de Manaus pela manhã, desce o rio para retornar no mesmo dia no final da tarde. Saimos do flutuante às 14:10h e por um bom tempo fomos acompanhados pelos botos no início da viagem.

Esse motor tem mais de 30 anos de idade e atende as comunidades ribeirinhas levando passageiros e cargas, principalmente a produção agrícola da região.

Sem chuva forte, a viagem foi bem tranquila. Ao contrário da lancha rápida de ida, esse barco levou quase 4 horas para chegar a Manaus. Com isso pudemos apreciar o rio Amazonas e toda a paz dessa natureza que não cansa de ser imponente.

Abaixo um vídeo do nosso barco da volta:

11 janeiro 2011

Café coado


Madrugada de sexta pra sábado em Manaus e o caminhoneiro que conversava com a gente pegou uma garrafa de cerveja vazia e a bateu com toda a força na sua perna direita. Escutamos um estampido metálico.

Estávamos no ET Bar, uma ótima e democrática opção em Manaus nos dias que antecedem os sábados, e a ação do caminhoneiro contra a sua perna foi para mostrar o metal que foi colocado no seu osso após um acidente de moto, numa vida muito louca que ele levava antes de se aquietar e hoje exercer a profissão que o leva de Campinas à Venezuela.

Gosto de conhecer pessoas e suas histórias, talvez muita gente também curta isso, e um dos bons motivos é perceber o quanto coisas simples possuem significados expressivos e às vezes transformadores.


Pensei nisso enquanto meu irmão conversava com seus amigos da universidade, eu fiquei ao lado da minha irmã, uma amiga dela e da minha cunhada apreciando um chorinho que começou a ser tocado pelos músicos do bar. Estávamos ao ar livre, quase no meio da rua e no aglomerado de freqüentadores do ET que ocupam a via pública, esta não chega a ficar fechada, mas os carros reduzem a velocidade e passam utilizando uma ou duas das três faixas.

Em outro lugar agradável da cidade, o Palacete Provincial, um centro cultural localizado no centro da cidade e que na época da minha infância era um batalhão da polícia militar, acompanhei a conversa de uma das moças que atende no Museu da Imagem e do Som que funciona dentro do palacete.

Ela comentava sobre o seu namorado que havia comprado o absorvente errado, e parecia ter sido meio desesperador, pois o fluxo dela é muito intenso nos primeiros dias. Isso me jogou direto para o passado quando minha mãe pedia pra eu comprar absorventes e me especificava tudo nos detalhes, eu não entendia muito bem quais as diferenças, mas sabia exatamente qual a marca que ela detestava.

Um dos maiores desafios infantis foi fazer essa compra na antiga Lobrás (Lojas Brasileiras) que funcionava num prédio do centro da cidade. A loja era imensa e sempre muito lotada. Mas foi ótimo, pois superei de boa e acredito que foi um dos momentos que me fez perceber que as coisas realmente são mais simples do que parecem, basta nos posicionarmos com firmeza.

Hoje conheço muito bem o absorvente que a minha companheira utiliza e se for preciso comprá-lo de urgência farei com muito prazer, pois terá o aspecto simbólico de que a TPM do mês está chegando ao fim.

Pra encerrar, sugiro o café coado do Café do Pina, que fica dentro do Palacete Provincial. É tomando algumas xícaras que tenho desfrutado de outras histórias, baseadas também numa infância que aconteceu num rincão distante da Albânia e está no livro “Crônica de Pedra”, de Ismail Kadaré. Faltam 70 páginas e alguns cafés.

10 janeiro 2011

O ringue e o rio

O que pode representar o apito final num jogo de futebol em que o nosso time joga mal e perde a partida?

Solidão. Esse apito existe para nos dizer que a partir desse momento estamos sós e o que vai nos restar são confusas conclusões, tristezas, dúvidas e muitas vezes identificações profundas. O resultado está definido e não podemos voltar atrás. Durante 90 minutos estivemos em intensas fissões nucleares de adrenalina e o nosso time é um perdedor, mais ainda, nós sabíamos que ele era um perdedor. Mas havia esperança, afinal o futebol é uma caixinha de surpresas, não é assim que costumam dizer?

Mas essa caixinha não deu o ar de sua graça para os personagens dos dois filmes dirigidos por Clint Eastwood aos quais assisti nesse início de 2011: “Million Dollar Baby” (Menina de Ouro) e “Mystic River” (Sobre Meninos e Lobos).
(Farei referência a esses filmes sempre em seus títulos originais, pois as traduções, novamente, não foram felizes)

Nos últimos anos tenho aproveitado o período entre o final de um ano e início de outro para cobrir algumas lacunas cinematográficas. O escolhido da vez foi Clint Eastwood com os dois títulos acima.

Eastwood fala de perdedores e ao longo dos filmes acompanhei as trajetórias dos personagens com plena consciência de que haveria poucas oportunidades de superação em seus problemas. Gostei muito dos finais de ambos os filmes, o apito final de Clint Eastwood me fez refletir sobre a necessidade ou não de esperanças.

Conhecemos os EUA como um país em que ser um perdedor (loser) significa quase que uma condenação a uma rigorosa e cruel exclusão social, a não ser que haja uma superação. E para haver uma real transformação na vida é preciso ter esperança? Em “Mystic River”, percebi o quanto uma ferida profunda na vida de uma pessoa pode realmente não ter perspectiva nenhuma de cicatrização, abrindo uma outra questão: como conviver com isso numa sociedade que impõe a celebração de vencedores e a subjugação dos vencidos?

Em Million Dollar Baby, a esperança parece ser uma motivadora da personagem principal, uma loser de 32 anos buscando a superação como lutadora de boxe. Porém quando isso se apresenta na oportunidade de conquistar não somente o título mundial, mas também um milhão de dólares, todo o fio de esperança se esvai. É mais fácil ser um vencido no ringue ou na crueza da vida?

Não acredito que Eastwood esteja pondo toda e qualquer forma de esperança na lata do lixo, acredito sim que com esses dois filmes ele nos ponha em contato direto com as pessoas comuns, que vivem com a missão de sobreviver, onde a felicidade e a real cicatrização de suas feridas mais se distanciam do que se aproximam.

Considero relevante o fato do personagem interpretado por Eastwood em “Million Dollar Baby” estancar rapidamente o sangue dos cortes feitos pelos socos dos adversários de seus lutadores, pois pra ele, uma ferida precisa se fechar para continuarmos lutando. Porém nas nossas vidas nem sempre é assim, logo percebemos e as lutas que enfretamos são cada vez mais desgastantes. Vejo um forte humanismo nessas obras de Eastwood e que o cinema nos leve sempre a refletir sobre nós mesmos para não levarmos para o fundo de um rio todas as nossas esperanças.

02 janeiro 2011

A ferida de S.

Na última semana do mês de julho Soraia percebeu que a ferida em seu braço estava cada vez mais profunda.

Foi um prego que atingiu o seu braço direito logo acima de seu cotovelo. Ela fugia da chuva torrencial fora de época e se escorou numa madeira cheia de pregos.

É muito difícil saber alguma coisa sobre Soraia, ela detesta seu nome e tem 28 anos.

Voltemos à ferida. Ao redor do pequeno orifício provocado pelo prego começava a surgir um aspecto arroxeado. O centro da ferida era um círculo escuro que misturava sangue coagulado e pele ressecada. Fazia dois dias que Soraia havia tirado o curativo feito no pronto-socorro, mas a ferida não havia fechado.

Soraia resolveu mexer na própria ferida.

Com uma pinça esterilizada ela tirou a casca de sangue coagulado e um líquido amarelo saiu da ferida e escorregou pelo cotovelo. Ela limpou cuidadosamente com uma gaze.

A ferida ficou aberta e limpa.

Soraia tirou diversas fotos de sua ferida. Pensou até em fazer uma exposição. Soraia não era fotógrafa profissional muito menos artista plástica. A idéia se foi rapidamente.

Soraia despejou uma quantidade talvez excessiva de água oxigenada e na seqüência tapou a ferida com um novo curativo.

Até altas horas da madrugada Soraia brincou com as fotos de sua ferida e chegou até postar algumas na internet. Ela adormeceu e acordou três horas depois. O seu braço estava inchado e o curativo rompera-se. Soraia correu ao banheiro jogou bastante água em cima da ferida e a observou.

A leve dor que Soraia sentia parecia lhe confortar, por algum motivo estranho ela estava curtindo aquele incômodo no braço. A ferida estava aberta e o círculo arroxeado estava imponente em toda a sua forma.

O que Soraia faria quando essa sua ferida cicatrizasse?

Soraia ficou nua e percebeu que em seu corpo não havia nenhuma cicatriz.

Eram 5 da manhã e Soraia tomou um banho quente e demorado.